As estrelas parecem apagadas, mas não estão. A luz artificial da cidade ofusca a beleza natural e singela daquelas bolas brilhantes, que de longe parecem caber na palma da mão.
Estou sozinha. Ninguém sobe até o último andar no outono. Na verdade, as pessoas nunca sobem ao último andar pois estão muito ocupadas em seus apartamentos com suas televisões assistindo filmes e documentários sobre a imensidão do universo. Mas ninguém está aqui observando tudo isso na prática. Não é confortável.
Vendo assim as estrelas, eu reflito sobre como tudo é tão imenso. Mergulho dentro de mim e, apesar de me perder nesses labirintos e na imensidão de tudo, me sinto pequena. Pequena comparada as estrelas, que são pequenas comparadas a Terra, que é pequena comparada a Júpiter e que é pequeno comparado ao Sol. Sou extremamente minuscula perto dessa gigantesca bola de fogo que nos mantém vivos. Mas como se não bastasse tudo isso ser tão imenso, lembro que a VY Canis Majoris é capaz de fazer o Sol se sentir um cisco cósmico, e eu sei que num raio de 900 quintilhões de anos luz, existe algo maior ainda do que a maior estrela conhecida pelo homem. Somos apenas uma massa ínfima nessa imensidão. Me sinto como um elétron, tão pequeno que, individualmente, é esquecido. E sou. O universo não precisa de mim para se manter vivo. Na verdade, ele não precisa da humanidade. Somos insignificantes.
Pensando assim, eu me esqueço, por um segundo, o quanto acho as pessoas fantásticas por possuírem o seu próprio universo dentro de si. São bilhões de universos particulares vivendo em um universo que os tornam insignificantes. Sete bilhões de pessoas vivas sendo que bilhões já morreram e trilhões, quatrilhões, quintilhões ainda vão nascer. E mesmo assim, são todas muito insignificantes. Nada é suficiente comparado ao universo cósmico.
Como toda essa imensidão nos tornam pequenos, nos resta ser significantes para nós mesmo. As pessoas se juntam em pequenos grupos sociais para não se sentirem tão menosprezadas pela imensidão lá fora. São raras as pessoas que pensam isso, que tem consciência disso. Poucos são tão loucos de gastar horas de sono olhando para o céu numa noite gelada como essa até chegar a conclusão que a sua vida não vale nada. Mas eu gasto. Talvez eu faça isso pra ter certeza do que eu sempre soube, sou pequena, e comparar a humanidade ao universo é um conforto, pois assim sei que todos nós somos pequenos.
Tenho tempo ocioso para pensar nessas coisas porque, enquanto o resto do mundo está vivendo e pensando no seu grupo social, eu não me sinto pertencente a nenhum grupo, mesmo fazendo parte de alguns. Nunca me senti significante no meio das pessoas. Sempre sou apenas mais uma.
Apesar da minha pequenez, eu acho que sou como as estrelas, pequena vista de longe, mas de perto posso ser imensa. São poucos que chegam perto o suficiente pra concluir isso. Melhor assim.
Eu sei que em algum lugar no mundo, existe alguém que se sinta tão insignificante como eu. Não insignificante diante do universo, porque isso todos nós somos, mas insignificante dentro do seu grupo. Insignificante para os outros universos particulares, insignificante até para si, mas que faça com que o meu universo se sinta significante e que eu o faça se sentir significante, pois ele será significante para o meu universo, e eu serei significante para o dele. E nada mais importará, pois dividiríamos nossa insignificância diante do mundo, mas seremos significantes um para o outro, como a luz é significante para o escuro. E tudo isso nos fará rir de como precisaremos do universo um do outro para se sentir significantes, e só. O resto é só o resto. E apesar de toda a imensidão do universo, de todas as galáxias e das estrelas hiper gigantes, nos sentiremos grandes. Grandes comparados à tudo.
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