Aqui tem borboletas bonitas de verdade com tamanhos, formas e cores diferentes. Desde quando eu cheguei, corri atrás delas para fazer um quadro pro quarto que quero reformar, mas pra isso eu teria que mata-las - tenho dó de matar até aranhas - e além disso, não tenho nenhuma rede pra caçar elas. Quanto mais eu corria atrás delas, mas se afastavam. Desisti de correr atrás das borboletas. Esperei, sem esperança, que elas viessem até mim. Pra minha surpresa, foi o que aconteceu. Enquanto eu descansava depois do almoço uma borboleta pousou no chão, não era das mais bonitas, mas com toda aquela simplicidade, batendo as asas devagar como se quisesse mostrar o quão bonita suas manchas amarelas são, ela me cativou - assim como a rosa cativou o Pequeno Príncipe - e ela se tornou única por ser tão minha. Me aproximei com cuidado, com o chapéu na mão. O coloquei em cima dela e fiquei esperando que ela morresse pra que eu pudesse guarda-la dentro de um livro e assim que chegasse em casa, dentro de um quadro. Depois de algumas horas achando que a borboleta fosse minha, tirei o chapel e pra minha surpresa ela voou pra longe de mim dando voltas e mais voltas pela varanda exibindo a sua liberdade. Fiquei esperando que ela voltasse, mas ela se perdeu nos campos de soja. Por mais que ela gostasse das flores perto da onde eu estava, ela preferiu ser livre. Desisti de matar as borboletas e guarda-las num vidro pra exibir minha atrocidade pras visitas. Do que valia seus pequenos corpos mortos se é a sua vida que a faz tão bela?
Várias outras borboletas voaram no campo de flores depois do ocorrido, uma até pousou na cadeira de balanço que eu estava sentada. Elas não seriam minhas, ou talvez seriam, mas sem que eu as capturassem. Poderia até possui-las, mas por pouco tempo. Eu preferia que fosse assim. Quero vê-las livres e felizes, quero observar a beleza delas sem tirar a vida que lhes pertence, quero que elas arranquem sorrisos simplesmente por serem o que são, e não por estarem num quadro pendurado na parede. Depois percebi que não precisava que as outras pessoas soubessem que eu possuía aquela borboleta, ela me fazia feliz justamente por ser livre e bonita e isso devia me bastar. Ela tinha escolhido as minhas flores e eu a espantei, a sufoquei a ponto dela me odiar e querer fugir de mim.
Agora deixo que as borboletas que me cativam me façam feliz do jeito mais profundo e sincero, sendo livre pra desfrutar das minhas flores, e quando elas enjoam, deixo elas partir sem correr atrás. As borboletas não me pertencem, elas são do mundo e delas mesmas. Tenho que deixa-las visitar outros campos pra, quem sabe, apesar de tantas flores bonitas que tem por aí, voltar um dia e descobrir que o que as deixam feliz são as minhas flores, por mais simples que sejam.
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